Me deu vontade de escrever sobre esse meu mural de post-its.
Todo dia esse mural me encara. Pra me mostrar que isso de escrever com postists realmente funciona pra mim e que é preciso focar no trabalho para concluir um quadrinho. A minha relação com eles teve uma quebra em 2018, mas eu voltei.
Quando escrevi a minha primeira história longa, usei essa técnica sem mesmo saber de que existiam os tais cartões ou “index cards” do McKee (que acho que nem foi quem inventou também). Eu estudei roteiro por um monte de resumos de livros e fontes esparsas, sem acesso direto às bíblias do roteiro.
Mas tanto não sou 100% adepto da técnica descrita no Story pelo Robert McKee que até hoje eu prefiro postits desses pequenos porque ocupa menos espaço e não preciso ficar tão longe pra ver a história como um todo. E também não coloco “tudo que deveria” no cartão: sou mais direto ao ponto. Talvez a parte de marcar o valor da cena e o conflito eu achei uma boa adição desde que li o Story, mas só.
Outra evolução que tive desde o Destino Traçado foi marcar uma quantidade média de cartões por ato. São três atos sempre numa história, desde que Aristóteles os descreveu e desde antes dele, mas como o ato 2 é todo cheio de especificidades, a gente faz na verdade 4 separações. Coloquei um limite de 10 cartões por separação, aí fui colando esses anexos para cima e para baixo como comentário pra expandir o que acontece na cena.
Ah, outra novidade pra mim foi usar cores variadas, para cada núcleo ou emoção. Se é o vilão em destaque, por exemplo, usei amarelo. O Ícaro em verde e a Nat em rosa (desculpa, Nat, juro que não foi intencional!).
Quando a gente estuda roteiro, não tem material específico sobre quadrinhos, ou quando tem, está sempre falando de cinema. Porque, ao lado de outras formas de narrativas, o cinema ainda é o que mais se aproxima dos quadrinhos. Histórias verbalizadas ou apenas escritas se desenvolvem de forma mais lenta e complexa, mas nos quadrinhos não dá para ficar descrevendo o cheiro calmante da erva aromática que queima na pequena fogueira que esquenta o frio sobre os viajantes. A gente mostra uma galera sentada no fogo e já prepara a próxima cena. Então cada cartão, pra mim, é praticamente a narrativa de uma página inteira. Se eu for, nessa etapa, descrever cada quadro da página, é o fim. Bloqueio criativo.
Quando eu e o Vini escrevemos o Linha de Frente juntos, eu não usei o mural. De uma forma foi bom pra tentar algo diferente. Por outro, pra perceber que eu tenho dificuldade de enxergar a história sem meu mural.
Enfim, a cada HQ a gente evolui em algum aspecto. E acho que com meus postits me encarando todo dia, a coisa flui melhor!
Nos próximos dias vou explorar sempre algum ponto da minha produção de quadrinhos aqui e aproveito pra divulgar que dia 23, esta quinta-feira, entra no ar a campanha para financiar o terceiro e último Tinta Fresca chamado “Arte-Final”. Conto com o apoio de todos.
Valeu!