Escrever sobre um quadrinho de um amigo sempre é difícil, a não ser que seja um prefácio, porque aí não tem erro, são só elogios. Levando isso em consideração e que não existe mídia imparcial, vamos ao material que separei para resenhar hoje.
Klaus é a mais nova obra de Felipe Nunes, quadrinista prodígio que conheci no FIQ 2011 ainda na sua adolescência, já lançando seus quadrinhos independentes enquanto eu, na época com 21 anos, ainda só passeava pelo evento e nem tinha ideia de quando lançaria o meu primeiro livro. Lembro do pessoal comentando como ele era novo e já tinha seu trabalho impresso e de dar uma folheada na SOS e não ter gostado muito (falei “sós” por um bom tempo até aprender que na verdade o nome do livro é a famosa sigla de pedido de socorro). Naquela época eu não tinha lido nada de independente e também não tinha nenhuma empatia com trabalhos como aquele, por isso só torci o nariz e abri o próximo quadrinho.
O segundo trabalho que vi do menino Nunes foi o Orome, que comprei não lembro quando nem como. Uma HQ curtinha e divertida, ainda tinha alguns problemas de desenhos confusos, mas dava para notar uma evolução legal do anterior. Depois disso ele deu uma sumida dos quadrinhos e nem foi ao FIQ 2013. A gente até achou que ele tinha bandeado para outra área das artes quando começou a postar algumas artes do Klaus, em seguida anunciou que era um trabalho que iria sair pela Balão Editorial.
Mas afinal, do que se trata essa história? Klaus é mais um adolescente com problemas. Afinal, qual não tem? Mas os dele são bem mais complicados. Como se sentir integrado em uma sociedade onde você é o único humano, mesmo que ache que não, e a sua raça é quase uma lenda? Só quando surge um estranho na cidade de Klaus é que ele resolve correr atrás dos segredos que permeiam a sua vida.
A história é composta por volta de 100 páginas de história que foram desenhadas e finalizadas manualmente com pincel e nanquim, o que valorizou muito o talento do seu criador que por anos trabalhou com canetinhas descartáveis. A leveza e o deslizar dos pincéis deram uma beleza ao traço do protagonista e seus coadjuvantes e muita vida à história, o que também vale para os lindos cenários naturais de algumas cenas. Por outro lado, a representação da dureza dos ambientes urbanos e interiores dos imóveis não acompanha totalmente essa evolução no nível de alcançado neste trabalho, ainda pecando um pouco na representação de uma perspectiva que funcione neste novo traço. Falando ainda sobre cenários, é notável algum exagero de áreas de preto em certas páginas para cobrir composições simplistas, em alguns quadros até prejudicando a leitura e o clima construído na narrativa. Ainda que representar várias vezes o mesmo cenário é um trabalho muitas vezes desnecessário, fazer valer o espaço do quadro de alguma outra forma é importante de igual forma. Mas nada que prejudique a sensação de encher os olhos ao olhar cada página nova que se abre do livro.
O roteiro é bem formulado e o ritmo de leitura é tranquilo e fluído, tendo diversos ótimos momentos como a aula da professora e a tensa e crítica conversa na mesa. Um pequeno problema é o terceiro ato que demora muito a chegar e inclusive me peguei indagando já nas últimas páginas quando é que o Klaus iria tomas as rédeas da história e tentar descobrir sua verdade. O final nos deixa pensando sobre o que pode ter acontecido de verdade e como é da proposta da história, faz todo o sentido.
Apesar de todos os poréns aqui colocados, Klaus com certeza é uma obra que deve ser conferida pelos interessados em quadrinhos autorais. O ótimo acabamento dado pela editoração e pela gráfica, acompanhados de um longo prefácio de Fábio Moon, dão o toque final a este primeiro projeto mais longo do Nunes. Espero que a próxima obra que ele promete seja ainda mais instigante!
Obra: Klaus
Lançamento: 2014
Editora: Balão Editorial
Autor: Felipe Nunes
Nota Final: 7/10