O termo “estilo“, quando em desenho, geralmente entra em três frases clássicas dos artistas e suas variações:
- “Será que eu deveria desenhar nesse estilo?” – quando se sente desproporcionalmente invejoso;
- “Ainda estou em busca do meu estilo…” – quando se sente absolutamente insatisfeito;
- “Mas esse é o meu estilo!” – quando se sente erroneamente pronto;
A verdade é que todos nós artistas sonhamos em ter um estilo próprio. Primeiramente porque admiramos algum outro artista que tem o seu. Então queremos o nosso para que nós mesmos percebamos uma unidade no próprio trabalho e para evitar variações na qualidade. Depois para que o nosso trabalho seja identificado perante outros tantos. Por fim para que possamos um dia influenciar outros artistas. E assim a roda gira.
Resolvi escrever sobre isso porque o meu parceiro Vinícius Gressana levantou a bola. O assunto que ele sugeriu na verdade é um pouco mais específico que esse aqui, mas vou fazer um texto mais geral primeiro. Um pouco da minha experiência em busca do meu próprio estilo.
[emaillocker]Meus primeiros desenhos, lá na primeira infância, eram baseados principalmente em coisas da televisão. Com a revista Herói GOLD, salvo engano, veio um passo a passo para desenhar personagens e me deu uma noção de membros de um corpo. Depois, já na pré-adolescência, surgiram as revistas de desenhar mangá e eu comecei a copiar. E então os mangás lançados pela finada Editora Conrad. Dragon Ball e seus homens ultra musculosos principalmente. Isso fez com que meu desenho fosse comumente comparado ao “estilo de mangá”, mesmo isso sendo uma afirmação genérica, já que os quadrinhos japoneses englobam estilos de desenho muito diferentes entre si.
Quem me conhece sabe que Akira Toriyama sempre foi meu grande ídolo. Mas copiar seus “desenhos mangá” demais sem saber teoria de desenho acabou me deixando cheio de muletas e noções erradas de anatomia. Somente após meu primeiro curso de verdade que fui me desvencilhando de vários desses vícios. Mesmo assim, desenhar um personagem mais cabeçudo é simplesmente a forma que eu me expresso melhor hoje. Não me sinto confortável em desenhos mais realistas. Enfim, com o tempo, outras influências foram chegando: Bruce Timm, Mike Mignola, Bryan Lee O’Malley, Craig Thompson… A única coisa que não vinha era o meu estilo.
Eu sou muito influenciável quando entro em contato com alguma obra que gosto muito. Leio Tolkien, quero fazer uma fantasia medieval. Leio Douglas Adams, quero fazer uma comédia absurda espacial. Leio Art Spielgelman, quero fazer a minha biografia em HQ. Vejo Ridley Scott, quero fazer uma ficção científica pesada. Do roteiro ao desenho e às cores, meu estilo está sempre oscilando. E isso fazia com que eu nunca encontrasse a harmonia dos simpáticos traços arredondados com a dureza angular que acho idealmente gráfica. Porém durante o curso de três meses de Character Design do Leonardo Maciel, me encontrei. O ponto certo entre a curva e a reta, o contraste das formas, as coisas que eu buscava entender no Toriyama e no Timm, todas finalmente fizeram sentido.
Como falei no texto da semana passada, sobre estudos, a teoria tem que vir alinhada à prática constante. Estudando muito, estou chegando mais ou menos onde quero. E é entendendo o estilo dos meus mestres que vou trilhando meu próprio caminho. Não pisando em suas pegadas, mas seguindo seus horizontes.
Isso quer dizer que o curso fez com que eu achasse o meu estilo? Não, definitivamente. Mas pelo menos sinto que estou encaminhado… Um dia, daqui a alguns anos, alguém dirá que eu tenho meu estilo!
Até semana que vem com mais um texto!
PS: Já leu o texto da semana passada? Aqui o link!
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