Estou estudando sobre roteiro desde 2015, tentando aprender sempre um pouco aqui e ali. Não tive acesso ainda aos bastiões “Story” do Robert McKee ou “Screenplay” do Syd Field por falta de tempo e investimento, mas li uma série de autores que os leram e deram suas impressões. Como o objetivo deste pequeno artigo não é dar uma aula de roteiro, mas defender seu estudo, espero que a sua resposta a este texto não esteja diretamente relacionado a essa minha falha.
De forma simplista, podemos dizer que um livro é um roteiro em si, um filme é a sua transposição para o audiovisual e uma história em quadrinhos é o seu cruzamento com imagens. Claro, existe formatação de roteiro e isso varia muito para mídias e autores, portanto vamos fugir disso por enquanto. Roteiro em Portugal é chamado de “guião”, o que tem muito a ver com a função dessa peça nas artes com que se relaciona: é um guia para a história que se quer contar. Portanto, assim como é mais difícil chegar em algum lugar sem pensar antes em como se guiar até lá, contar uma história sem criar um roteiro é geralmente problemático. Existem exceções, grandes obras feitas no improviso completo, mas só reforçam a regra: é preciso um bom roteiro.
Infelizmente isso não é consenso. Muitos artistas focam no visual, na forma, e esquecem que o cerne é sempre uma história bem contada. Veja, não falo “boa história”, porque há formas incríveis de se narrar histórias simples e cotidianas e mesmo assim criar grandes obras de arte. O bom roteiro resolve a narrativa para qualquer história.
E para ser bom eles têm que cumprir uma série de pontos que prometo falar melhor no texto da semana que vem, pois a proposta deste artigo é facilitar apenas a identificação de roteiros ruins. Ao consumir alguma obra que se encaixe em quaisquer das afirmações a seguir, que não seja em casos extremos onde é a declarada vontade do autor, você está diante de um roteiro que poderia ser melhor trabalhado:
- A obra é de aventura/humor/terror/drama/romance/etc, mas não causa as sensações características do gênero;
- O mundo onde a obra se passa fica mais claro que os personagens e a história;
- Visuais e cenas mirabolantes são mais destacados do que a história;
- Os personagens, seus objetivos e/ou destinos são desinteressantes;
- A trama é confusa e/ou leva a lugar nenhum;
- Os segredos e reviravoltas da trama não causam surpresa;
- As expectativas construídas durante a trama não recebem resposta equivalente;
Com certeza você deve ter lembrado de alguma obra que consumiu, contendo uma ou mais características dessas e chamou de “ruim”. Entender porquê algo é ruim nos dá ferramentas para criar algo melhor ou melhorar algo já em desenvolvimento. Na semana que vem falarei outros pontos, como um checklist.
E aí, vamos estudar roteiro?
Até semana que vem com mais um texto!
PS: Já leu o texto anterior? Aqui o link!
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