Daquelas coisas que se perdem na internet frenética de hoje. Tempos atrás, já nem sei se meses ou anos, lembro de ter lido um depoimento da Ana Luiza Koehler, artista talentosíssima que trabalha para editoras europeias, que falava sobre o uso do nosso tempo para produção de histórias em quadrinhos. Ou pelo menos me lembro de ter lido isso dela. Acho legal estender um pouco esta conversa.
É fato é que nós, seres humanos, temos um tempo limitado de vida. E apesar de, para artistas com sua vezes infinita criatividade precisarem sempre de mais tempo, é necessário medi-lo para encaixar cada obra, cada projeto.
[emaillocker]Quando comecei escrever o Tinta Fresca, em meados de 2012, não tinha a menor ideia de como era produzir uma HQ longa. Quando fiz a primeira versão em 2014 como webcomic, nem sabia quando ou como acabaria. Só em 2016 percebi o quanto consigo produzir por dia em ritmo normal ou em ritmo de desespero para algo com um prazo específico. A produção foi de Fevereiro a Agosto, pouco mais de 6 meses, para desenhar e colorir 90 páginas, junto ao Vinícius. Só que ao terminar, exaustos, combinamos que nunca mais faríamos algo com um prazo tão apertado. Foi aí que o segundo volume, ao completar seu ciclo de produção em meados de 2018, terá durado algo entre um ano e meio e dois anos da nossa vida.
Tanto eu quanto o Vinícius temos outros empregos para ajudar na vida de quadrinista, assim como quase todos os outros. Mas, considerando um artista que consegue criar uma obra longa nova por ano, e considerando uma produção contínua até uns 60 anos de idade antes de diminuir o ritmo, quantas obras você terá feito em vida? 30? 40? Quantas dessas são realmente importantes? Quantas dessas você colocou seu coração e deu seu melhor?
Outra coisa que você precisa pensar é: o quanto é importante a produção, o quanto é importante o estudo e quanto é importante o restante das coisas (socialização, entretenimento, exercícios físicos, ócio). Cada uma destas atividades demanda tempo e são valorizadas de acordo com os preceitos de cada um. Há os que gostam mais de estudar, outros de entretenimento, cada um é um. No final do ano, você produziu mais ou ficou mais tempo rolando a linha do tempo da rede social? Você poderia ter feito diferente? Gostaria?
A finitude da vida sempre está nos lembrando que o tempo, além de curto, pode ser interrompido também. E não pensando pelo lado melancólico, mas sim pelo do aproveitamento. Uma vida curta que produziu uma grande obra que será lembrada eternamente é tempo que valeu. Uma vida longa cheia de boas obras também.
Sei que o texto desta vez foi um pouco sombrio e pode até ser gatilho de problemas de ansiedade para alguns, por isso desejo que você também não se leve a sério demais. Sigam o conselho de Ferris Bueller de Curtindo a Vida Adoidado (1986):
“A vida passa rápido demais; e se você não parar de vez em quando para vivê-la, acaba perdendo seu tempo.”
Até semana que vem com mais um texto!
PS: Já leu o texto anterior? Aqui o link!
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