Já falei sobre meter a cara e também sobre como escolher o papel, então nada mais óbvio do que falar de um tema que se tornou muito querido meu depois de um curso: edição de quadrinhos!
Como sempre, começo da experiência pessoal mais antiga e trago até os tempos recentes, localizando vocês nas minhas lutas constantes pela evolução. Lá pelos idos de 2013, quando fui montar “O Pedreiro – Vida, Obra e Cantadas”, me encontrei perdido por não saber muito sobre como montar uma revista, sobre cadernos de impressão, etc. Para não dizer que era um completo alienado nesse assunto, no curso de Ilustração de Mercado que fiz, conhecemos alguns conceitos editoriais que me ajudaram a saber como conversar com a gráfica.
Mas e a parte de colocar as imagens e as palavras e as páginas e a capa tudo junto, como faz? Bom, aprendi fazendo.
Não tinha tempo de instalar o famoso Adobe InDesign, então busquei alternativas gratuitas para edição. Foi aí que achei o Scribus, que é um programa gratuito de código aberto que possui praticamente tudo que o InDesign faz de mais essencial, além de ser bem mais leve e funcionar em Windows e Linux. Li alguns tutoriais e meti brasa na produção. Porém algumas coisas só se aprende olhando como outros faziam e, neste caso, olhei mais referências com edição amadora do que profissional. Ainda gosto do jeito que montei “O Pedreiro”, mas faria bem melhor hoje. Meus outros dois quadrinhos com tiragem ultra reduzida, “Disco” e “Em Busca de Pedra Dura”, fiz a edição um pouco mais simplificada para economizar papel, então quase não contou como uma nova experiência.
Anos depois, por muita sorte e dias antes de fechar o “Tinta Fresca: Destino Traçado” para a gráfica, consegui participar do excelente curso de edição de quadrinhos do Sidney Gusman. O curso ajudou tanto na reta final do projeto que coloquei seu nome nos agradecimentos aos apoiadores! Lá ele falou sobre erros comuns, erros terríveis, conceitos editoriais, tradução, adaptação. Diferenciou edição de um quadrinho pronto contra edição de um quadrinho em produção, a qual ele chama de “verdadeira edição de quadrinhos”. Nesse último o editor fica responsável desde apontar melhorias do roteiro até o fechamento da arte para o autor ou autores.
O autor independente precisa ser um pouco de tudo e isso inclui ser o próprio editor.
Não que eu recomende fazer a própria revisão, o que é perigosíssimo, ou dispensar a chance de ouvir a opinião de um “leitor beta”, pois ambas ações ajudam muito a polir arestas que o autor não consegue encontrar por si mesmo. Mas o seu papel de autor-editor é lembrar de todas as tarefas necessárias à produção e se preocupar com elas.
Recomendo muito que observe com atenção como são editados quadrinhos de diversas editoras, como Panini, Nemo, Mino, Veneta, JBC, etc, desde quadrinho americano grampeado, mangás, livros de lombada quadrada, capa dura, até outras mídias impressas ou digitais. Tenha revistas importadas e aprenda com elas também.
Tudo é inspiração e aprendizado do que pode ser utilizado futuramente em algum trabalho.
Vou listar algumas tarefas de um autor-editor, mas tenham a certeza absoluta de que há editores que fazem muito mais que isso, ou muito menos também:
- Definir o cronograma com prazos de início e conclusão do projeto, com datas de entregas parciais;
- Gerenciar imprevistos e contornar atrasos;
- Estudar o roteiro e encontrar falhas de trama ou continuidade [1];
- Enviar o roteiro para revisão e aplicar correções e sugestões adequadas;
- Definir a quantidade total de páginas e o número ideal de cadernos para impressão [2];
- Definir o formato do livro e padrão de margens e áreas para requadros das páginas [3];
- Definir as sessões editoriais que serão inclusas [4];
- Definir o espelho [5];
- Definir a capa;
- Montar o livro baseado no espelho utilizando softwares de edição;
- Enviar cópia digital do livro para revisão e aplicar correções e sugestões adequadas;
- Verificar se as cores do livro estão no formato CMYK adequado ao material e à gráfica escolhidos [6];
- Verificar as provas da gráfica comparando com material enviado;
(1) Os temidos “furos de roteiro” devem ser encontrados e eliminados ainda na parte de escrita do roteiro, pois ficam muito complicados de corrigir depois de iniciada a produção. (2) Um caderno geralmente tem 16 páginas, por isso que livros tem números de páginas múltiplos de 16 ou 32. (3) Margem é a área livre, para respiro, de uma página; já requadro é a borda de um quadro que a compõe. (4) Além da sessão padrão com os créditos de produção da HQ, pode-se incluir agradecimentos, prefácio, introdução, posfácio, extras de bastidores, galeria de artistas, entre outras. (5) Espelho editorial é um desenho que simula a distribuição do conteúdo de um livro ou revista. (6) Existem dezenas de padrões de CMYK e além disso é recomendado utilizar um padrão adequado ao papel, seja liso (“coated”) ou poroso (“uncoated”).
Estou pensando em transformar estes textos em vídeos para voltar a publicar no meu canal do YouTube, tendo esse “roteiro” pronto, já ajuda um bocado.
Dúvidas? Sugestões de tema para os textos? Comentem!
Até semana que vem!
PS: Já leu o texto da semana passada? Aqui o link!
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